

Baile funk: um guia
A origem do funk carioca
O baile funk, ou funk carioca, é uma variante estimulante da dance music que surgiu nos anos 80 no Rio de Janeiro e deu voz aos moradores das favelas e do subúrbio da cidade. Apesar do nome, o funk carioca tem pouco a ver com o funk norte-americano. Na verdade, ele é derivado do Miami bass, frenético subgênero do hip-hop de forte apelo sexual, que dominava a cena underground do sul da Flórida naquela época. O Miami bass chegou ao Rio com os DJs que tocavam os últimos lançamentos nos bailes, onde o público cantava em um português improvisado que ajudava a criar as famosas “melôs” a partir de músicas como “Do Wah Diddy”, de The 2 Live Crew. O álbum Funk Brasil (1989), do DJ Marlboro, consolidou a popularidade desse gênero que combinava batidas electro-funk e letras explícitas com ritmos e texturas bem brasileiros. Mais tarde o funk carioca se espalhou pelo país e se ramificou em subgêneros, como o paulista funk ostentação, o suave funk melody e o controverso funk proibidão.
O funk ostentação de São Paulo
Se o funk carioca falava da vida na comunidade, o funk paulista, que surgiu no final dos anos 2000, tinha um caráter aspiracional e tratava de luxo, dinheiro e grifes caras – era o funk ostentação. Com uma sonoridade mais acessível, o funk ostentação traduzia o otimismo dos jovens brasileiros, que passaram a ter melhores condições de vida graças ao significativo crescimento econômico do país na época. Os videoclipes dos artistas pioneiros do gênero, como MC Guimê e MC Daleste, exibiam carros caros, roupas de marca e acessórios chamativos que se tornaram a marca registrada do funk ostentação. Muitos desses videoclipes foram dirigidos pelo paulista KondZilla, cuja visão hedonista foi tão importante para o sucesso desses artistas quanto as próprias músicas.
O funk conquista o pop
Há algum tempo o funk não está mais limitado apenas às periferias – ou somente ao Brasil. O sucesso de artistas como Anitta levou o funk para a música pop e abriu as portas do mercado internacional – ela foi uma das atrações do festival Coachella em 2022. “O brasileiro sabe fazer uma festa”, disse Anitta a Zane Lowe, do Apple Music, em 2022. “A gente sabe se divertir e sabe receber bem todo mundo.” Mais recentemente, artistas como LUDMILLA e a dupla Tropkillaz uniram forças com grandes nomes estrangeiros, como Snoop Dogg, J Balvin e Drake, e ajudaram o funk a chegar à América do Norte – em 2024 é a vez de LUDMILLA se apresentar no Coachella. Um dos maiores sucessos de 2023, “Tá OK”, do produtor DENNIS e MC Kevin O Chris (um ícone do funk 150 bpm), explodiu ainda mais com o remix com os astros colombianos KAROL G e Maluma. E o funk chegou até o Super Bowl com o poderoso remix de “Rude Boy” do DJ baiano Klean, um dos destaques da apresentação de Rihanna no show do intervalo em 2023.
O funk hoje
As redes sociais tiveram grande impacto na configuração do baile funk atual ao resgatar antigas tendências e criar novas trends, ajudando a inovar as diversas ramificações do gênero. Trinta anos depois do seu auge, o tamborzão voltou com tudo, mantendo viva a batida original do funk carioca. Estilos regionais se tornaram mais populares, como o brega funk do Norte e Nordeste, que combina trap e influências latinas, e o funk etéreo e minimalista de Belo Horizonte, que se consolidou como um dos principais polos do gênero do país. Além disso, o dançante e (literalmente) vibrante som automotivo e os sintetizadores assombrosos do phonk se tornaram muito populares no TikTok – especialmente entre os gamers – e extrapolaram as fronteiras do Brasil. O som da favela agora é o som do mundo.